Funed pode ser indutora do desenvolvimento econômico no Estado

Diante do temor de sucateamento da Fundação Ezequiel Dias (Funed) para que possa futuramente ser entregue à inciativa privada, deputados, representantes de entidades da área da saúde e servidores da autarquia se reuniram, em audiência pública da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

 

Participantes de audiência destacam papel estratégico da fundação e sua viabilidade econômica

 

O encontro foi agendado após servidores se queixarem de terem sido impedidos de participar de audiência sobre a gestão da Funed na última semana, na Comissão de Saúde. Parlamentares da oposição se retiraram daquela audiência e, nesta sexta (18), lembraram do ocorrido, para protestar contra a condução da reunião.

Presidente da Comissão de Educação, a deputada Beatriz Cerqueira (PT), que solicitou a audiência, também lamentou a ausência do presidente da Funed, Felipe Attiê, que compareceu à ALMG na semana passada e, desta vez, mandou representantes. Foi aprovado requerimento para convocá-lo e o bloco de oposição também solicita o agendamento de uma sabatina do gestor, uma vez que ele assumiu o cargo sem a realização desse procedimento formal.

Em relação à condução da autarquia, o deputado Lucas Lasmar (Rede), que provocou o debate na Comissão de Saúde, reapresentou dados que, ao mesmo tempo, indicam sua viabilidade econômica, mas a diminuição da sua arrecadação. “Enquanto discutimos quem está certo ou errado, a Funed está afundando”, pontuou.

As informações trazidas pelo deputado apontam uma receita de R$ 4,7 bilhões de 2019 a agosto de 2023. No entanto, apesar de uma previsão de arrecadação de R$ 1 bilhão no ano passado, menos de R$ 600 milhões teriam sido efetivamente contabilizados.

“A grande pergunta é o que vai ser da Funed neste governo”, observou Lucas Lasmar. Conforme informou, o lucro líquido da fundação foi de R$ 966 milhões, em 2019, para R$ 300 milhões, em 2022. Independentemente dos valores, fato é que a autarquia dá lucro, com uma média de gastos correspondente a 30% da sua receita, ainda de acordo com os números apresentados pelo deputado.

Por fim, ele ressaltou a função social da Funed, para produzir medicamentos que não interessam à indústria farmacêutica, e defendeu mandatos para servidores efetivos no comando da autarquia.

Importância estratégica

Também contrárias a uma possível privatização da fundação, a deputada Lohanna (PV) e a deputada federal Ana Pimentel (PT-MG) destacaram o papel estratégico da instituição, fundada em 1907 e referência na pesquisa, no desenvolvimento e na produção de vacinas e medicamentos no Estado.

“A sanha privatista revela o desconhecimento do governo do que pode ser o motor do desenvolvimento econômico do Estado”, afirmou Lohanna, ao abordar o retorno financeiro do investimento em pesquisa.

Outro aspecto da necessidade de investimento em conhecimento científico, abordado pela presidente do Conselho Regional de Farmácia, Júnia Medeiros, é a dependência brasileira da importação de medicamentos. Dados de 2020 mostram que o País produz apenas 5% da demanda do nosso consumo.

Para o deputado Jean Freire (PT), o governador Romeu Zema (Novo) quer destruir a Funed justamente pela sua importância para a saúde pública e o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Ainda sobre a importância da Funed, o vereador de Belo Horizonte Bruno Pedralva comentou um lado menos comentado da fundação, como a realização de exames de leishmaniose, malária e sarampo. “A Funed é fundamental porque saúde não é mercadoria”, frisou Bruno Pedralva.

Falta de diálogo e transparência

Servidora da Funed desde 1994, a presidente da Associação dos Trabalhadores da Fundação Ezequiel Dias (Asstraf), Myrian Duarte, se queixou das alegações do presidente Felipe Attiê na última audiência, na qual apontou entraves estruturais, tecnológicos e burocráticos para a expansão dos serviços da autarquia.

“Falta transparência da atual gestão e as suas justificativas não se sustentam”, disse. Ela também acredita em um plano de sucateamento para se vender parcerias privadas como solução.

Myrian Morato Duarte (presidente da Asstraf) acredita haver um plano de sucateamento da fundação

A sindicalista reclamou de uma política de baixos salários, redução do adicional de insalubridade e do congelamento do vale-transporte. Ela ainda criticou o fato inusitado de Felipe Attiê ter levado um padre para jogar água, possivelmente para benzer, em um dos laboratórios.

Entre as críticas à gestão do atual presidente, a deputada Bella Gonçalves (Psol) citou justamente a violação do princípio de um Estado laico, além de denúncias de assédio moral.

Federalização teria obstáculos e privatização não estaria no radar

Outro tema discutido na audiência foi proposta de federalização da Funed. O projeto de lei 890/23, do deputado Jean Freire, autoriza o Estado a ceder a titularidade da fundação ao governo federal, como forma de pagamento antecipado de parcelas de sua dívida com a União.

Regina Mattos, chefe de gabinete da Funed, ponderou que mesmo uma possível federalização não poderá de qualquer forma envolver o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-MG) da autarquia, já que cada estado deve ter sua unidade.

O deputado Luscas Lasmar também comentou que a federalização poderia ser interessante hoje, com o governo do presidente Lula, mas que seria necessário avaliar o que poderia acontecer com a fundação em futuras gestões. A chefe de gabinete Regina Mattos também reiterou a afirmação de Felipe Attiê de que não há intenção de se privatizar a autarquia.

“Desconheço isso de privatização, uma questão que tem sido trazida de fora para dentro da Funed. O que houve foi um levantamento diagnóstico da fundação”, afirmou.